quarta-feira, 27 de março de 2013

O Governo e as declarações

Após quatro dias de exclusão blogosférica (depois de uma avaria no computador que só reafirma o meu horror pela informática), estou de volta, ilustres leitores, para alegrar o vosso dia falando acerca das minhas inutilidades médicas.

Provavelmente já terão lido esta notícia. Ainda não estou no meio médico a exercer, e posso até nem entender verdadeiramente o que estas declarações implicam, mas gostaria que alguém me esclarecesse algumas dúvidas que pairam na minha cabeça. Especialmente porque eu, aluna do primeiro ano, longe de acabar o curso e muito menos de exercer, já fui presenteada algumas vezes com os referidos produtos dos senhores delegados de propaganda médica.

Em Dezembro fizemos dois estágios: um em hospital e outro nos centros de saúde. Não fizemos nada de jeito, basicamente andámos atrás dos médicos a ver como as coisas são feitas e como funcionam os "bastidores", etc e tal. Mas a verdade é que, várias vezes durante essas duas semanas, fui percebendo o que está por trás daquilo que nós achamos que é o dia-a-dia num centro de saúde/hospital. Assisti, por diversas vezes, a reuniões à hora de almoço, antes ou depois do serviço, com inúmeras personagens que, vim depois a saber, eram, nada mais nada menos, do que delegados de informação (ou propaganda, como queiram) médica. E a verdade é que também eu fui apanhada pela febre desses senhores: recebi lápis, blocos, marcadores e outros artigos de papelaria. E gostei.

A questão que eu aqui coloco é: será assim tão importante declarar o valor dos objectos recebidos? Não deveria o governo esforçar-se por, em vez de exigir a declaração dos valores, exigir a declaração do nome das farmacêuticas que nos "subornam" com estes bens? Porque, para mim, meus caros, o core da situação é esse mesmo. Sinceramente, acho um pouco ridículo declarar coisas que valem 10 ou 20 cêntimos, mas o motivo por detrás disso, esse sim, acho verdadeiramente importante ser declarado. Sei bem que isto não é possível, e politiquices e economias não são comigo, mas já ando neste mundo há 20 anos e, nos poucos meses de estudante de Medicina que levo, já consegui entender que a saúde é, acima de tudo, um negócio. Para os médicos, para os hospitais e, sobretudo, para as farmacêuticas, as malvadas. E como qualquer outro negócio, gira à volta de dinheiro, de promessas disto e daquilo. E não é muito difícil concluir que muitas das situações ocorridas no meio médico são movidas por outros interesses que não a saúde dos doentes. E é feio admitir, mas é a verdade. E não é o mais correcto para com os doentes, mas é a verdade também. E todo o ser humano gosta de receber presentes de vez em quando, e pode acontecer que acabe por se esquecer daquilo que é a verdadeiramente importante na sua profissão: colocar os doentes acima de tudo e sempre, em qualquer circunstância, atender ao que é melhor para eles, seja em termos de composição química de um medicamento propriamente dito, ou em termos do preço do mesmo, que muitas vezes é um impeditivo à sua compra. Valerá assim tanto a pena esquecer-se destas coisas tão importantes para receber não sei o quê?

Certamente que é muito apelativo mas... Será correcto?



sexta-feira, 22 de março de 2013

Rescaldo

Após uma semana intensiva de exames, está na altura de fazer um balanço daquela que foi, até hoje, a semana mais intensiva da minha vida. Foram horas seguidas de estudo todos os dias, no mínimo 12, noites mal dormidas e muito, muito stress. Assim, ficam aqui algumas recomendações para quem, como eu, se aventurou num curso que tem mais areia do que a nossa camioneta consegue aguentar. Algumas consegui cumprir, outras nem por isso.

1) Realizar actividades e pausas anti-stress -  Com tão pouco tempo disponível e matéria que nunca mais acaba, é importante ir fazendo umas pausas de vez em quando para descomprimir um pouco. No meu caso, as minha actividades resumiram-se a fazer limpeza. Sim, leram bem. Volta e meia, quando já não conseguia ler nem mais uma palavra, sacava uma de dona-de-casa e aqui vou eu: uma esfregadela aqui, uma limpeza rápida de pó, estender umas roupas (no estendal por baixo da minha janela, o que serviu também para apanhar algum ar na cara), entre outros.

2) Sair de casa uma vez por dia - Segunda-feira tive exame logo pela manhãzinha. Cheguei a casa à hora de almoço e só voltei a sair quarta-feira à tarde. Má escolha. Achei que ia dar em tolinha. Assim, na quinta não me armei em esperta, e à hora de almoço, fui à mercearia do outro lado da rua só para saber o que era não hibernar durante tanto tempo seguido.

3) Comer em condições - Este foi, talvez, o ponto mais crítico da semana. As minhas refeições são sempre relativamente saudáveis. Como sempre sopa e comida normal. O problema está na espaço entre as grandes refeições. Enfardei tanta porcaria que até dói só de pensar. A saber: aniquilei um frasco inteiro de Bocadelia de frango; para juntar à Bocadelia, claro está, pãozinho. Um pacote inteiro de pão de forma, ainda por cima daquele branco, sem côdea, com a farinha mais refinada que existe e sem uma grama de fibra; Sobremesas doces: todas as santas refeições eu comi doces! Pudins, panacotas do Continente, bolachas, o que vocês pensarem, eu comi tudo. Só não tinha guloseimas cá no armário, senão também iam num instante. Mas fui forte e resisti a comprá-las (*clap clap*). Depois desta semana dieteticamente destrutiva acho que vou ter que fazer uma dieta Detox para a semana. E acho também que vou esconder a balança durante, pelo menos, duas semanas.

4) Não abusar do café - Já fui mais pessoa de café. Entretanto enjoei, mas o meu corpo continua cafeino-dependente, e eu tenho o dever de o alimentar. Assim, ultimamente tenho-me vingado na Tofina, a mistura perfeita cevada com cafeína. Perdi a conta à quantidade de canecas que bebi esta semana.

5) Dormir as horas suficientes - Esta semana tentei sempre dormir as 8h estipuladas pelos deuses do sono. O problema é que o meu cérebro, em vez de desligar quando eu quero dormir, fica activo e aos saltos, a tentar rever 1001 coisas estudadas durante o dia. Eu bem tento esvaziar a minha mente, mas é humanamente impossível. Esta noite dei por mim a falar durante o sono. E o que dizia eu? Pois bem, recitei todas as artérias e mais algumas que tinha que saber. E dei por mim também a sonhar com músculos, com nervos, com regiões cervicais e outros que tais.

6) Manter a calma - Este ponto nem merece discussão porque, enfim, quem por cá já passou sabe o que é e sabe como é impossível manter a calma e a sanidade mental. Acho que só me faltou trepar paredes, mas pronto.

7) Ligar à mãe antes dos exames - Mãe, obrigada por me teres aturado esta semana inteira. A minha mãe, que, como aqui já referi, é a melhor mãe do mundo, esta semana deve ter sofrido ainda mais do que eu. Liguei-lhe tantas, mas tantas vezes a chateá-la, a incomodá-la durante o horário trabalho (e durante a qual está expressamente proibida de usar o telemóvel), enquanto dormia e até enquanto jantava ou tomava banho na paz do Senhor. E sempre para dizer a mesma coisa. Acho que ela se deve ter cansado tanto que me aturar que merece, na próxima semana, que a recompense por tudo o que passou. Mãe sofre...

Para os mais novos, se é que os há, que lêem isto, SIGAM ESTAS RECOMENDAÇÕES À RISCA, podem salvar a vossa vida (a sério).

Posto isto, acho que vou dormir. Dormir como se não houvesse amanhã. Dormir como quem está de FÉRIAS!!!

Bom fim-de-semana!

quarta-feira, 20 de março de 2013

Semana Académica

A Associação Académica cá do monte resolveu marcar a Semana Académica (vulgo Queima) para esta semana, o que coincide, como já repararam, com a semana de exames finais de Medicina. 

Como forma de protesto, os estudantes de Medicina resolveram vestir-se de negro (eu não, primeiro porque não trouxe roupa preta, segundo porque está muito calor e eu não sou masoquista). Na vinda para casa depois do exame deparei-me com capas negras estendidas à janela e várias mensagens de protesto, entre as quais uma, a que mais achei piada, que dizia "Xiu! Aqui estuda-se. PS: Obrigada colegas."

A festança começa hoje, precisamente num pavilhão que é na rua onde moram 90% dos estudantes de Medicina, eu incluída. Vai ser bonito.

Quanto a mim, já fui ali ao Continente comprar tampões para os ouvidos. Dizem que até nem se ouve muito, mas sempre é melhor prevenir do que remediar. Neste momento estou com um aspecto muito engraçado, com duas bolas verde e rosa fluorescentes a sair das orelhas. Era quem me visse assim.

Agora vou preparar-me para a derradeira prova: Anatomia!

Na sexta há FIESTA!

terça-feira, 19 de março de 2013

Metade já está!

Pois que o estudo vai bem, obrigada. Dois já estão mas ainda faltam mais dois que equivalem a 3047 dos que fiz ontem.

Agora é que vão ser elas!

sábado, 16 de março de 2013

Coisas que gosto... #2

Reconheço que esta faculdade não tem tantas vantagens quantas eu gostaria, até porque não se pode agradar a gregos e troianos. A verdade é que eu tenho mais queixas do que elogios a fazer (sou uma pessoa muito descontente com a vida e qualquer coisa serve de pretexto para eu me revoltar e iniciar uma rebelião), mas a verdade é que, quando há coisas boas, o meu dever é reconhecê-las, ainda que contra a vontade (às vezes gosto de me revoltar só porque sim).

Posto isto, uma das coisas que tenho que louvar a esta faculdade é o facto de haver três trimestres (e não dois como nas universidades clássicas). Porquê? Ora, porque final do trimestre implica duas coisas, uma que eu gosto bastante e outra nem por isso (odeio, vá, mas não é necessário descarregar a raiva agora), decorrentes de três épocas de exames: três épocas muito intensivas de estudo + três semanas de preparação para os exames finais. Este último ponto equivale a passar uma semana em casa, que é coisa que eu gosto sempre, mesmo que a semana seja passada com o focinho nos livros e sem sair à rua para sentir a brisa na cara.

Geralmente as semanas de preparação são épocas muito críticas (como já devem ter reparado pelos meus comentários idióticos e sem sentido provocados pelo excesso de estudo), tanto pelo estudo que nelas decorre como pelo tempo que se passa sem vida para além dos livros: não há café, não há computador (quase), não há saídas, não há filmes, livros, televisão, conversas longas ao telemóvel, nada - vendo bem, nas outras alturas do ano, passadas igualmente a estudar, também não há grandes coisas destas, mas vai-se fazendo um esforço por manter uma vida social aceitável, coisa que definitivamente não acontece nesta época.

Ainda assim, e apesar deste stress todo, a parte positiva da coisa é que passamos uma semana em casa. Uma semana de rainha, na qual não tenho que me preocupar com cozinhar, lavar pratos, arrumar o quarto, porque os meus pais (já disse o quanto gosto de vocês?), preocupadíssimos com a minha saúde mental e falta de tempo para estudar, facilitam-me imenso a vida. "Filha, queres lanchinho?"; "Filha, estás confortável?" "Tens frio? Queres um cobertor?" "A comidinha está na mesma"; "Não te preocupes em arrumar isto, deixa estar, vai vai, estuda estuda!"; "Se precisares de alguma coisa diz!".

Por vezes dou por mim no meio do monte a pensar que estou em casa. E de vez em quando lá começo "Mãããe, Ó MÃÃÃÃEEEEEEE tenho fomeeeeeeeeeeeeeee". E depois a realidade dá-me uma bofetada na cara e diz "Tens fome? Desalapa e vai comprar pão, e é se queres".

Pois. Sniff.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Modo "Oh-Valha-me-Deus"

Pois que para a semana é semana de exames finais e estamos oficialmente em modo "Oh-Valha-me-Deus-a-minha-vida-vai-acabar-é-desta-que-fico-sem-neurónios". Prevê-se uma semana negra, a condizer com as previsões meteorológicas, que eu sou boa menina e gosto de andar de mão dada com o tempo horroroso de lá de fora. Os últimos dias têm sido passados exclusivamente sentados à secretária, com um cházinho e umas bolachinhas a acompanhar, numa demanda louca e sem fim para atingir notas razoáveis. Nesta festa acompanham-me quatro amigas do coração: Anatomia, Estatística, Bases Físicas e Comunicação em Biomedicina (há quem lhe chame também a cadeira mais ridícula e inútil de todo o sempre, absolutamente sem interesse nenhum, tanto para o curso como apenas para uma questão de cultura geral, ainda pior do que estatística, que essa aí também gosta muito de me atormentar a vida). E portanto tenho passado os meus dias à volta de calculadoras, erros padrão, estimativas e estimadores, actividades radioactivas, decibéis, audiometrias, lentes côncavas e convexas (nunca esquecendo os míopes e os presbitas), artérias, veias, vasos linfáticos, septos intermusculares, músculos flexores, extensores, adutores e abdutores, plexos braquiais, lombares, sagrados e cervicais, entre tantas outras coisas que poderia continuar a enumerar, auto-testando-me para a semana que se avizinha, mas que a vós não vos interessa, e por esta altura já nem sequer estão a ler.

Rezem por mim, que eu vou voltar à carga. Isto é muito bonito estar uma semaninha em casa, mas o estudo chama e não se pode descurar as obrigações que este emprego, o de estudante, exige.

Bom fim-de-semana!

quarta-feira, 13 de março de 2013

Parte do clube

Eu sei que este blogue não é para estas coisas, mas toda a gente fala sobre isso, e portanto parece-me lógico que eu, eloquente e fluente escritora deste blogue, um dia o supra sumo dos blogues, também me pronuncie sobre o assunto, sentindo-me, assim, cada vez mais parte da blogosfera.

HABEMUS PAPAM!

E com duas curiosidades: o novo Papa tem só um pulmão (mas não se deixem enganar pelo aspecto franzino do senhor porque o faltoso pulmão nunca o impediu de viver a sua vida normalmente e, portanto, não há-de ser agora que o impedirá) e é cientista (mais propriamente químico, mas vai quase dar ao mesmo. É dos meus carago!).

E era só isto. Hoje vou dormir mais descansada, sabendo que faço parte do super clube de bloggers que falou do Papa Francisco I, carinhosamente apelidado de "Chicco" por essa Internet fora.

E agora... Habemus anatomia!

Expedição aos produtos de limpeza

Ora, como aqui já referi, sou eu própria que faço a limpeza do meu quarto, primeiro porque já tenho idade para saber limpar e viver num local higiénico, e segundo porque os meus pais não são ricos e acho que ainda levava uma bofetada se ousasse, sequer, pedir-lhes que pagassem a alguém para limpar o meu espaço. Eu que me desenrasque, e acho muito bem que assim seja (obrigada, pais, por fazerem de mim uma pessoa responsável e autónoma).

Como já vos disse, a minha senhoria faz a limpeza às partes comuns da nossa casa (que é para não acabarmos à batatada e a arrancar cabelos umas às outras quando os planos de limpeza não fossem cumpridos) e, simpática como é (é mesmo), disse que, se eu precisasse, poderia usar os produtos de limpeza que ela tem lá pela despensa.

Assim, e com o objectivo de manter asseado o meu ninho de estudo, fui surripiando os ditos produtos de vez em quando e dei uma de dona de casa. Mas a tragédia abateu-se sobre mim quando, um dia, fui lá buscar o maravilhoso Pronto anti-estático e o desgraçado estava vazio. E fui eu que o esvaziei, porque nunca vi a D. X a pegar no dito cujo (e muito menos as minhas colegas - cof cof). Desta forma, e uma vez que aquilo é realmente maravilhoso (cheira bem, limpa melhor, deixa tudo a brilhar e evita que o pó se agarre durante mais tempo - é fantástico!), lancei-me na busca por um Pronto anti-estático só meu.

Certo dia, depois das aulas, lá fui eu até ao Continente, que é bem pertinho da minha porta, e dirigi-me imediatamente ao corredor dos produtos de limpeza. Um novo mundo apareceu diante dos meus olhos sob a forma uma panóplia infindável de produtos até agora desconhecidos: com cheiro, sem cheiro, ecológicos, verdes, azuis, cor-de-rosa, para madeira, tijoleira, aço inoxidável, específico para cozinha, casa-de-banho, exterior, desentupidor de canos, extra brilho, remoção eficaz de gorduras, com líxiva, sem lixívia, para usar directamente sobre a esponja ou misturar com água, líquido, em gel ou pó e até vegetarianos (!!!). A lista nunca mais acaba. Ignorando todos os gritos desesperados de "compra-me, eu é que sou bom e vou limpar como tu queres", chamei um senhor com a camisola do Continente por perto e disse-lhe o que queria. O diálogo que se seguiu foi mais ou menos assim:

Senhor: - Então, mas quer óleo de cedro ou um líquido de limpeza normal?
Eu: - Quero um Pronto anti-estático que é um frasco grande castanho e com tampa amarela.
Senhor: - Entendo. Portanto, um líquido de limpeza. Mas temos alguns Prontos que têm óleo de cedro. Nunca notou um cheiro amadeirado quando limpa?
Eu: - Não, ele cheira bem por acaso. É castanho com tampa amarela.

O senhor começa lá a escarafunchar na prateleira e tira uma data de frascos, aparentemente todos muito parecidos.

Senhor: - Ora bem, temos estes aqui. Este é só 3-em-1, limpa, protege e cuida. Depois temos este que é 5-em-1, que também restaura e elimina manchas e preenche as picadelas da madeira. Depois temos estes para madeiras claras, madeiras escuras blá blá blá. Não me sabe dizer qual a madeira que pretende limpar? Ou se deseja algo mais geral, que dê para tudo?

Olhei para ele com um ar muito parvo.

Eu: - Eu só quero um Pronto de frasco castanho para limpar os móveis do meu quarto, que são claros.

O homem lá olhou com um ar muito pensativo para os frascos todos e já ia começar a repetir a lenga-lenga toda, quando eu lhe arranquei o mais parecido com o que queria e disse "Deve ser este". E vim-me embora. Escusado será dizer que saí de lá esgotada de tanto pensar qual o produto ideal para o tipo de madeira que habita o meu quarto.

Alguma vez se aperceberam da oferta que existe nestas coisas? Se isto é assim nos produtos de limpeza nem quero imaginar quando um dia me decidir a ir explorar o corredor dos produtos congelados, ou dos queijos, ou dos enchidos, ou dos iogurtes, ou dos produtos especiais importados, ou das bebidas alcoólicas.

E eu que pensava que já dominava o Continente, que era "a minha cena". Parece que não. Ainda tenho muito para aprender (e explorar).

PS: Acho que o Pronto que eu escolhi era o tal que eu queria mesmo. A embalagem não era exactamente igual, mas o cheiro e textura eram, por isso vou assumir que era o mesmo conteúdo mas com uma cara nova.

domingo, 10 de março de 2013

Modificações

Agora sim, está mais parecido comigo. Minimalista e com um je ne sais quoi (perdão pelo francês, não é a minha especialidade) de leveza e mais feminino (vocês não me conhecem mas não sou nenhum bicho do mato como às vezes faço parecer). Estava muito pesado e acho que vos espantava um bocado quando cá se entrava. A ver se é desta que me torno o próximo fenómeno blogosférico (inserir sarcasmo).

Opiniões/sugestões aceitam-se!

Eu ainda só estou no primeiro ano

Quando estamos no primeiro ano de Medicina, somos frequentemente confrontados com uma de duas situações:

1) As pessoas acham que ainda não sabemos nada, ou;
2) As pessoas acham que já sabemos tudo.

Nenhuma delas corresponde à realidade. Passo a ilustrar com dois exemplos:

1) As pessoas acham que ainda não sabemos nada - Há uns tempos, o meu pai foi fazer umas análises de rotina. Tirar um bocadinho de sangue, ver se andamos bem de triglicéridos, colesteróis e afins. Ora, o objectivo destas análises é entregá-las à nossa médica de família, preferencialmente fechadas, durante uma consulta onde ela nos vai dizer mundos e fundos porque andamos a abusar do sal ou dos petiscos entre refeições. Claro que o meu pai não faz nada disto. Curioso e hipocondríaco que só ele, foi levantar as análises e abriu-as de imediato. Como pessoa leiga nas andanças médicas que é, deparou-se com um novo mundo de caracteres e expressões desconhecidos e, em vez de esperar pela consulta, veio todo aflito para casa esfregar-me as análises na cara e exigir, de imediato, que lhe dissesse qual a doença maligna de que padecia. Como é óbvio, e dado que ainda estou no primeiro ano, ainda não sei avaliar correctamente um boletim de análises, apenas sei olhar para os valores obtidos e verificar se estão dentro dos parâmetros. Dei uma olhadela às análises (apenas para concluir que não sabia o que significavam metade daqueles valores) e disse-lhe: " Acho que 'tás fino e fresco que nem uma alface. Não percebo muito disto, mas acho que está tudo bem". Toda a sua expressão modificou-se e olhou para mim com um ar desconfiado: "Então está mesmo tudo bem? Mas então e este valor aqui não está muito alto? E achas que deva fazer uma dieta? Cortar no sal ou no açúcar? Eu já não como doçaria mas, nunca se sabe, enfim, pode sempre cortar-se um bocado mais. Que dizes?". "Pai, eu não percebo muito disto, por isso acho melhor esperares pela consulta. Mas não te preocupes, a sério". "Não percebes nada disto. Ainda não aprendeste nada de jeito. Vou à farmácia perguntar à Dr.ª". E saiu , deixando-me assim, com cara de parva, a olhar para a porta.

2) As pessoas acham que já sabemos tudo - Aparentemente, estamos na altura de semear alguns hortícolas, nomeadamente batatas (não sou especializada neste assunto, apenas vejo os meus avó lá no campo a plantar coisas na terra). Após um dia de trabalho, a minha avó veio até mim, com a cara branca que nem cal e disse: "Ai filha, dói-me tanto as costas. Achas que isto pode ser rins?". Ainda não percebo muito sobre boletins de análises, mas se há coisa que já aprendi é que ninguém se aguenta em pé se tiver uma dor de rins a sério. Disse-lhe imediatamente "Não, impossível, isso é das costas. Andaste a tarde toda no campo de rabo para cima, toda torta, obviamente que isso é costas". Ela olhou para mim com um ar muito sério e disse, muito orgulhosa "Fogo, tu percebes mesmo disto, hás-de ser uma grande médica." E deu-me um abraço, como se eu tivesse acabado de lhe dar a melhor notícia da vida dela. Mal ela sabe que ainda percebo muito pouco disto, apenas o suficiente para saber que se a dor dela fosse, efectivamente de rins, ela nem tinha tempo para me perguntar o que se estava a passar.

Isto tudo para esclarecer duas coisas: no primeiro ano é certo que ainda aprendemos muito pouco, mas a verdade é que já aprendemos alguma coisa, porque se assim não fosse, qual o objectivo de existir o primeiro ano?

Portanto, amigos, não me venham pedir conselhos médicos sobre qual o melhor medicamento ou o que aconselho quando vos dói aqui ou acolá. Perguntem-me estruturas anatómica e onde fica o quê. Perguntem-me coisas de biologia (da pesada), porque também já aprendi. Coisas efectivamente de clínica, lamento desiludir-vos, mas ainda não estou apta para tanto! Daqui a uns anitos falamos.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Desabafos

Odeio estar fora. Odeio estar longe da minha família, dos meus amigos e do meu namorado. Odeio estar dependente do estudo 24 horas por dia. Odeio ter exames de 15 em 15 dias. Odeio a falta de tempo. Odeio as viagens. Odeio as malas pesadas. Odeio olhar pela janela e não ver a minha praia preferida. Odeio estar rodeada de monte. Odeio este clima, ora gelado, ora abafado. Odeio o silêncio ensurdecedor de quem passa dias sozinha sem ver gente. Odeio a solidão.

Quero a minha vida de volta.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Fim-de-semana a terminar

Hoje termina o fim-de-semana prolongado e às 21h30 lá estou de regresso à minha segunda cidade. A partir das 19h é o rebuliço do costume: fazer a mala, preparar isto e aquilo, verificar se não falta nada, tudo bem embalado e compacto na mala, que não pode ser muito grande, primeiro porque as minhas costas, apesar da tenra idade de 20 anos, já se começam a queixar quando o peso excede os 5kgs, e segundo porque o carro do meu amigo que me dará boleia hoje tem que albergar malas de mais 4 pessoas, o que não é uma tarefa fácil.

Amanhã tenho a última aula do trimestre (de estatística, absolutamente inútil), e depois vai ser um "valha-me Deus salve-se quem puder porque os exames finais estão próximos". Portanto não esperem ver grandes dissertações filosóficas e culturais nos próximos tempos, apenas dissertações anatómicas ou estatísticas, o que já não é mau.

Boa semana para todos.

domingo, 3 de março de 2013

OTL - Ocupação dos Tempos Livres

Muita gente me pergunta o que é que eu faço nos meus tempos livres. Ora, como sabem, os meus tempos livres são quase nenhuns, o que é uma tristeza para mim, porque há tanta coisa boa para se fazer nesta vida que é uma frustração tamanha não poder aproveitá-los devidamente.

Tenho um fim-de-semana livre de 15 em 15 dias (estou numa faculdade toda futurista que acha que não temos mais nada que fazer a não ser ter exames quinzenais), e portanto passo a semana a almejar o maravilhoso fim-de-semana. Faço 1001 planos: "ora bem, no sábado vou levantar-me às 8h da manhã. Vou dar uma corrida até à praia, ver as vistas e tomar um café na esplanada enquanto leio aquele livro que estou há 3 meses a tentar acabar. Depois vou almoçar a maravilhosa comida da minha mãe. De tarde vou ver um documentário/série/filme e à noite vou até ao shopping tomar um café com os meus amigos do coração." Os planos de Domingo não diferem muito, com a diferença que à noite vou, geralmente, de viagem.

Isto é tudo muito bonito, planear as horinhas todas ao pormenor e achar que se vai ter um fim-de-semana super produtivo. Mas a realidade é muito diferente e infinitamente mais triste.

O que acontece, geralmente, é muito diferente do planeado. Basicamente, os meus planos saem sempre furados. Em primeiro lugar, as manhãs são sempre desperdiçadas a dormir. Não que dormir seja um desperdício, pelo contrário, até é bem preciso, mas a verdade é que, com tão pouco tempo livre, deveria aproveitá-lo melhor em vez de passar a manhã (às vezes estende-se até ao início da tarde) a dormir. A tarde é outro grande problema. Normalmente, tenho sempre grandes planos de me actualizar socioculturalmente, mas em vez de me dedicar a ler ou a actualizar a minha cultura cinematográfica, ou seja, a fazer algo realmente útil para a minha formação, fico sentada no sofá, a ver o canal E! e os dilemas e grandes problemas de vida dos famosos. Às vezes também leio uma revista cor-de-rosa, que é de extrema importância saber as últimas fofocas nacionais e internacionais. O único plano que ainda vou mantendo é o da saída nocturna, pelas razões óbvias.

Chega o Domingo, e em vez de aproveitar o pouco tempo livre que tenho para tentar remediar o que (não) fiz no Sábado, geralmente fico a queixar-me do tempo que perdi e de quão mal o aproveitei. Quando dou conta está na hora de fazer as malas e voltar à rotina do costume.

E assim se desperdiça um fim-de-semana que poderia ter sido maravilhoso. E depois é por estas e por outras que estou presa no mesmo livro há três meses e ainda não o consegui acabar e porque este ano, pela primeira vez na vida, não consegui ver todos os filmes candidatos aos óscares antes da cerimónia. Mas perguntem-me lá o que se passa na vida das celebridades, ou quais os últimos divórcios escandalosos ou gravidezes inesperadas. Pois, isso que não é importante sei eu tudo. Santa ignorância. Nem pareço uma pessoa que gosta de se cultivar. Tenho que mudar de vida.

sábado, 2 de março de 2013

Tecnologias

Não percebo nada de tecnologias e estou extremamente frustrada.

Hoje tentei, no sentido de tentar pertencer um pouco mais à blogosfera, criar uma conta Google+ e tornar-me toda social. Não funcionou. Não percebo nada disto. Isto é só nomes complicados e coisas para as quais não fui talhada. Tentei mudar o meu nome, mas aparentemente a "política de nomes" da Google não me permitiu fazer as alterações que eu queria. Mas então, por que raio não posso eu chamar-me Miquelina de Jesus ou Maria das Dores Cucujães? Pior, ainda tentaram exigir que eu digitalizasse documentos oficiais para provar a minha identidade? Mas que raio?

Vencida, lá resolvi identificar-me correctamente. Mas e depois seguir outras pessoas? Lá andei a perscrutar os blogues que leio e, vejam só, acho que acabei por me seguir a mim mesma. Valha-me Deus.

Se alguém mais experiente que eu nestas andanças quiser dar-me umas lições desta coisa fico-vos eternamente agradecida. Olhem para mim como a pedinte mais chata de toda a blogosfera: peço-vos carros, casas e agora até ajuda para cuidar do meu próprio blogue. Tenham paciência, prometo tentar instruir-me mais um pouco da próxima vez.

Coisas que desgosto #2

Um dos grandes problemas de um estudante deslocado é a partilha de casa. Cada pessoa tem a sua própria personalidade, e cada um vive à sua maneira e está habituado de certa forma. Por isso, quando chega a altura de irmos partilhar uma casa com pessoas desconhecidas, com hábitos e estilos de vida diferentes, a coisa complica-se um pouco. Vejam-se algumas das situações com as quais tenho que lidar diariamente e que, como o título sugere, desgosto.

1) Partilha de WC
Esta é, meus amigos, uma das coisas que mais me fez confusão quando saí de casa. Com que tipo de pessoa vou eu partilhar a minha casa-de-banho? Será que ela toma banho??? Será que vai mexer nas  minhas coisas? Será que vai roubar o meu papel higiénico? Será que se vai baldar às tarefas de limpeza? Por sorte, até me calhou uma menina relativamente calma para dividir a casa-de-banho. No entanto, sinto-me extremamente aliviada, já que não temos que dividir tarefas de limpeza (acho que a nossa senhoria tem medo que morramos enterradas no meio do esterco e prontificou-se, desde logo, a fazer limpeza às partes comuns). É um sossego, senão desconfio que aqui a pessoa ia andar a limpar a casa-de-banho sozinha...

2) Horários diferentes
Sou uma pessoa que gosta de ir dormir cedo. Cedo tipo por volta da meia noite. Mas as minhas colegas de casa têm um problema grave com dormir à noite e estudar/viver de dia, fazendo precisamente o contrário. Ora, quando o sono começa a atacar para estes lados, lá vou eu sossegadinha para o meu canto, tentar desfrutar do meu sono de beleza. E porque é que esta é uma tarefa complicada? Porque fiquei com o quarto do meio, logo ouço todo o barulho, e porque as minhas colegas não sabem, simplesmente, respeitar o meu sono. Ele é portas a bater, ele é conversas até às quinhentas, telefonemas e sms, gargalhadas até mais não, enfim, uma festa! E não adianta dizer nada, porque 5 minutos depois voltamos à velha história (e ainda fazem queixinhas à senhoria, como se ela fosse nossa mãe! Arre!).

3) Gastos
Já se sabe que quando se juntam três pessoas que não se conhecem de lado nenhum na mesma casa, há-de haver sempre pontos de divergência entre elas. O nosso reside nos gastos. Eu sou da opinião que devemos poupar, seja na água, seja na electricidade. A visão da minha colega é, precisamente, a oposta. "Mas se eu estou a estudar fora e a sofrer muito por estar longe da minha família, quero ter o mínimo de conforto para viver em paz". Pois. Mas o conceito de conforto dela é diferente do meu. O conceito de conforto, para ela, é ter sempre o aquecedor ligado no máximo (e depois abrir a janela porque, ai, o meu quarto está muito quente), ligar todas as luzes por onde quer que passe (porque eu tenho de ver bem por onde ando, eu não estou em casa onde conheço todos os cantinhos!), não abrir as janelas logo pela manhã (o sol incomoda taaaanto de manhã), entre outras coisas absolutamente ridículas e absurdas.

Lembram-se de quando vos pedi, gentilmente, um carrinho caso vos saísse o euromilhões ou algo parecido? Pois bem, vejo-me obrigada a pedir-vos, novamente, da forma mais gentil que consigo, que, se houver por aí alguma alma caridosa que se compadeça do meu sofrimento e tenha uns tostões a mais e não saiba o que fazer com eles, que os invista na renda de um T0 para a minha pessoa. É só vantagens: garanto-vos guarida se algum dia desejarem visitar a cidade neve, prometo cuidar e estimar o espaço, com o benefício de melhorarem a minha performance académica, já que não ando tão ocupada a chatear-me com as minhas conterrâneas. Ora, e uma melhor performance académica significará uma melhor profissional, que é exactamente aquilo que vocês querem e precisam. E, como já vos disse, prometo ainda dar-vos consultas grátis e passar-vos à frente de todos os velhotes em lista de espera! Parece-vos um bom negócio?

Pensem nisso!

sexta-feira, 1 de março de 2013

O Secundário

SPOILER - Hoje temos um post sentimental.

Hoje voltei à minha antiga Escola Secundária, aquele onde passei, garanto-vos, os melhores anos da minha vida. Ao contrário das pessoas normais, posso dizer que, para já, gostei mais dos meus tempos de estudante do Secundário do que dos de Faculdade. Não sei se é porque a vida era fácil, se por estar em casa, se por ter lá feito os meus melhores amigos, ou se foi porque lá conheci a minha pessoa, com quem ainda hoje estou.

Hoje voltei, como já disse então, à minha Escola. Mas aquela já não era a minha Escola.

Foi anunciado, quando estava no 12º ano (o que aconteceu no lectivo 09/10) que a minha escola ia ser toda remodelada. Estava velhinha e um bocadinho degradada o que, na minha opinião, não era nada que não se pudesse resolver sem uns restauros. O projecto inicial era aumentar um andar em cada pavilhão. Até aí, tudo bem. Imaginei logo a minha escola toda imponente, cada bloco com 3 andares! Mas foi tudo por água abaixo. O segundo projecto seria manter o polivalente (a principal sala dos alunos) e demolir os blocos de aulas propriamente ditos para fazer um mega bloco, com tudo renovado. Embora tenha sentido uma ligeira facada no coração, pensei "bem, pelo menos o polivalente continua de pé". Pois, mas nada disto aconteceu. No ano seguinte à minha saída de lá, o projecto já era fazer uma nova escola do zero. O objectivo era fazer uma escola moderna, toda equipada e com todos os recursos necessários. A mim pareceu-me que eles queriam era fazer uma máquina de alunos, mas tuuudo bem. A demolição foi indo aos poucos, e nos primeiros tempos, quando lá voltei, ainda havia pedaços da escola onde andei, o que sempre me fez relembrar os bons momentos lá passados sempre que lá ia.

No entanto, quando lá fui hoje, senti-me perfeitamente defraudada e excluída daquela que foi, em tempos e para mim, a melhor escola de sempre. Vejam só que hoje fui lá para ir tratar de umas papeladas e a única coisa que reconheci foram alguns funcionários professores. Nada resta da minha antiga escola. Aconteceram, obviamente e como não podia deixar de ser, situações caricatas

Em primeiro lugar, não dei logo com a entrada do sítio. Resolveram colocar uma data de grades de ferros, super imponentes, pretas e soturnas, obviamente sem estilo nenhum, que nos confundem logo à partida. Andei então lá as voltinhas para descobrir qual das grades era, na realidade, uma porta. Primeiro objectivo conseguido.

Posto isto, avizinhava-se a segunda missão: descobrir a secretaria. Não havia ninguém à vista, aquilo mais parecia um deserto (de cimento porque as árvores que lá havia foram-se todas à vida - Chamem os Verdes!! Vergonha!!! Uuuuuuh!). Lá vislumbrei dois catraios, quase com idade para serem meus filhos (nem tanto mas pronto), e perguntei-lhes onde era a secretaria. Lá me indicaram o sítio.

Entrei e aquilo mais parecia um hotel de 5 estrelas. Verdade. Senti-me logo intimidada por todas as mensagens de boas-vindas, placas pomposas a anunciar que o ministro não sei das quantas esteve lá, o cheirinho a tinta e a verniz. Em seguida, dirigi-me à recepção para fazer o check-in, que é como quem diz perguntar onde e a quem me dirigir.

Tratadas todas as papeladas, resolvi dar uma volta para ver como estava tudo. Tristemente, nada me pareceu familiar. Não havia caras conhecidas, não encontrei nenhum professor e também ninguém se pareceu lembrar de mim. Nada mais me liga àquela escola. Aliás, aquela já não é mais a minha escola, porque o que resta dos tempos em que lá andei não é mais senão o nome. Isso entristeceu-me

Resolvi vir embora, com a certeza de que o tempo passa rápido e que não volta atrás.

O que era já foi, e o que foi não volta a ser.